sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Reúso de água da chuva enfrenta resistências em Porto Alegre



Jessica Gustafson


GILMAR LUÍS/JC
Reaproveitamento esbarra em questões culturais e econômicas
Reaproveitamento esbarra em questões culturais e econômicas
A reutilização de água da chuva está longe de ser um assunto novo. Na verdade, se trata de um retorno aos antigos costumes: utilizar a água que cai do céu no cotidiano. Nada mais simples. Porém, com a modernização da engenharia e a comodidade de abrir a torneira e receber o líquido já tratado, a prática foi sendo esquecida. Atualmente, com discussões sobre sustentabilidade, o método voltou como uma solução contra o desperdício. Na Capital, existe a Lei n° 10.531/2008, que determina a captação e uso da água da chuva para empreendimentos não residenciais. Segundo o então vereador Beto Moesch (PP), autor do projeto, ainda existe resistência sobre o tema.

“Diversas instituições científicas e não governamentais, que sempre defenderam o uso racional da água, que passa pelo aproveitamento da chuva, manifestaram-se contrárias ao projeto”, afirmou. Moesch diz que os principais motivos para essa resistência são fatores culturais e econômicos. Segundo ele, o ensino do reaproveitamento ainda não é feito efetivamente nas universidades. “Não adianta ensinar as crianças a separar o lixo na sala de aula, aprendendo também a importância da captação da chuva, se depois, nos cursos de Arquitetura e Engenharia, vão ensinar que isso é inviável. Isso ocorre hoje”, criticou. Além disso, ele acredita que o assunto precisa ser tratado dentro das empresas, dos governos e parlamentos.

O contrassenso de se falar em sustentabilidade e utilizar apenas a água que é capitada dos mananciais e rios é criticado por Moesch. “É sustentável utilizar água tratada para descarga, para lavar carro e para regar jardim? Não. Chegou um período, principalmente no século XX, em que a facilidade da engenharia acabou com a captação da água da chuva e também com o reúso da água. Existe tecnologia nacional, que inclusive gera emprego e renda”, diz.

O lobby econômico também é um dos motivos para que o reaproveitamento não se aplique, pois diminuiria a taxa cobrada por quem realiza o tratamento. “Quem vende água tratada terá prejuízo. Embora tenhamos aprovado a lei, não conseguimos, em sua regulamentação, prever para construções residenciais”, completa.

Os custos para a implantação de sistemas de recolhimento da chuva e seu reaproveitamento variam bastante. A tecnologia é a mesma já utilizada nas casas, precisando apenas de uma readaptação. Claudio Frankenberg, professor da faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), explica que em um prédio, por exemplo, é preciso ter uma determinada inclinação para que o líquido escorra e pare em uma cisterna. A maioria das casas tem calhas, sendo necessário apenas não deixar que a água caia diretamente no terreno. “Se utiliza a tecnologia que já existe, mas com a perspectiva de recolhimento. Posteriormente ao armazenamento, precisará ser instalado um sistema de bombeamento para se utilizar na lavagem do jardim e para as caixas d’água das privadas”, esclarece o professor.

Para Frankenberg, uma resistência notada sobre a implantação dos sistemas diz respeito ao controle das adaptações, sendo preciso fazer a limpeza dos materiais. De acordo com ele, deve-se realizar a manutenção das calhas e das caixas. “Isso implica custos e também trabalho. Traz economia de água, mas demanda esse trabalho especial”, ressalta. 


Fonte:  http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=114057

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.