Mauro Belo Schneider e Roberta Fofonka
Marco Quintana/ JC
Eduardo Natalício é proprietário de bares como o Dona Neusa, Dona Zefinha, Dudu's e Natalício
Após as novas normas de horário
para os bares, cujo fechamento foi estabelecido para as 2h, reclamações
de alguns moradores por conta do barulho e insatisfação dos
empreendedores, que defendem a boemia, o bairro Cidade Baixa vem se
reinventando. Nomes de peso da noite gaúcha se mudaram para a Lima e
Silva, deixando a rua com ares mais sofisticados – o que agrada alguns e
frustra outros.
Quem frequentava a Cidade Baixa motivado pela
diversidade de estilos e presença de pequenos bares típicos do bairro,
hoje encontra no local os mesmos estabelecimentos consagrados nas áreas
nobres da Padre Chagas, no Moinhos de Vento, ou da Zona Sul. A
professora dos cursos de Publicidade e Propaganda e Administração de
Empresas da ESPM-Sul, Lidiane Rohde, diz que esta foi a solução para
evitar a perda de clientes.
“Houve elevação do poder aquisitivo
dos jovens porto-alegrenses, levando mais gente ao Moinhos de Vento. Os
empreendedores da Cidade Baixa começaram a pensar: ‘se a gente não
oferecer opções similares, perderemos nosso público’”, explica ela.
Lidiane acrescenta que as reformas nos pontos e a padronização mais
charmosa também satisfaz a demanda da nova classe C, que está mais
exigente.
Um dos experts sobre a região é Eduardo Natalício, 31
anos. Nascido em Pernambuco, mudou-se para Porto Alegre em 2004,
trazendo na bagagem a revolução do conceito de boteco para o Rio Grande
do Sul. “Em 2006, quando abri o primeiro Boteco Natalício, no Centro,
esse termo trazia um tom pejorativo”, diz ele. Hoje, várias outras
marcas se inspiraram na ideia e transformam o título em algo chique.
Boteco do Tirol, Boteco da Oca, Boteco Pedrini, entre outros, compõem o
cenário gaúcho neste segmento.
Apenas
na Lima e Silva, Natalício possui outros empreendimentos além do
Churrasquinho Natalício, em funcionamento desde agosto. Entre eles, o
Dona Neusa, aberto em 2008, em homenagem à avó, o Dona Zefinha,
inaugurado em 2010, e o mais recente é o Dudu’s, lançado neste ano, que
oferece diversas opções de cachorros-quentes na rua Sarmento Leite –
negócio inspirado em Chicago.
Natalício é um apoiador da
manutenção da Cidade Baixa como um circuito boêmio. “A boemia é ponto
turístico em diversas cidades. Pessoas vão ao Rio de Janeiro para
conhecer a Lapa e a São Paulo para visitar a Vila Madalena, por exemplo.
Em qualquer lugar do mundo, existe boemia, e aqui em Porto Alegre estão
tentando acabar com isso. Tudo que acontece de ruim na Cidade Baixa tem
muito mais repercussão do que nos outros bairros”, observa. O
empresário pontua, ainda, que hoje em dia a maioria dos turistas homens
que chega a Porto Alegre acaba optando por casas que ofereçam serviços
sexuais como entretenimento - por ser a principal referência noturna da
cidade. Isso seria resultado da extinção das demais alternativas, como a
Avenida Goethe, e a desvalorização da Cidade Baixa como atração para os
viajantes.
Para recuperar consumidores que abandonaram a Cidade
Baixa, foi criada a Associação Cidade Baixa em Alta. O projeto realiza
diversas ações a fim de levantar a “moral” da área, inclusive durante o
dia. Aos sábados são realizadas peças de teatro, exibição de filmes a
céu aberto e shows em horários mais acessíveis, opções que contemplam
diferentes faixas etárias.
É
preciso valorizar o bairro como um todo, não somente a parte noturna. É
uma área boêmia de potencial cultural muito representativo em Porto
Alegre”, destaca Thiago Faccio, responsável pelo projeto na agência
Woodoo. Ele afirma, inclusive, que as medidas procuram transformar o
bairro em um lugar bom tanto para moradores quanto para frequentadores e
comerciantes. “A primeira ação do projeto foi lançar um manual com
diretrizes de boa convivência”, exemplifica. Sobre as reformas dos
estabelecimentos, Thiago diz que a situação também está relacionada às
medidas propostas pela Secretaria Municipal da Produção, Indústria e
Comércio (Smic) de regularização e liberação de alvarás, e não somente
ao aspecto estético, como alguns imaginam.
Chegado há pouco na região, no dia 26 de agosto, o Kiosque Brasil levou a experiência de 10 anos de atuação na Avenida Assis Brasil, na Zona Norte, para o local. “Estava faltando algo nesse estilo na Lima”, ressalta o proprietário Edgar Niedermeier, de apenas 21 anos, mas já pai de família, como destaca. Ele explica que a opção pelo segundo endereço se deve à Copa do Mundo. “Aqui, tudo é tematizado do Brasil. Cada espaço representa um estado brasileiro”, descreve o jovem empresário, reforçando o coro de que a Cidade Baixa é um dos únicos bairros boêmios que sobrou na Capital.
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