sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Padrão em nome da demanda

 

repetição: 'arquitetura de carimbo' é fenômeno mercadológico no qual o uso dos mesmos elementos construtivos evita o desperdício<br /><b>Crédito: </b> pedro revillion
repetição: 'arquitetura de carimbo' é fenômeno mercadológico no qual o uso dos mesmos elementos construtivos evita o desperdício
Crédito: pedro revillion
 
 
A arquitetura em Porto Alegre é conservadora e são raríssimos os projetos que ousam, que apostam em obras prediais desafiadoras. Nas últimas décadas, período que coincide com o "boom" imobiliário, o que se vê na Capital é a "arquitetura de repetição", construções residenciais e comerciais feitas em larga escala, com bastante eficiência e rapidez, mas sem muita dedicação à estética. Passeando pela cidade, o observador mais atento verá uma infinidade de prédios sendo erguidos, ou recém entregues, todos muito parecidos, ou seja, nenhum se destaca por um projeto arquitetônico inovador. Esse é o pensamento dos arquitetos Marconi Leonardi Júnior e Luiz Zubaran. Ambos apontam a tendência que norteia atualmente o mercado de construção civil gaúcho: a intenção é não errar e atender à demanda cada vez maior.

"Não se vê mais obras de autor, as quais são consideradas de excelência", explica o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra Luiz Carlos Zubaran, diretor do IAP - Instituto Andreas Palladio, relembrando arquitetos que marcaram as décadas de 60 e 70, como Carlos Fayet, responsável por uma das mais importantes obras da arquitetura contemporânea no Estado, o prédio do Palácio da Justiça, na Praça da Matriz, inaugurado em 1968. "O gaúcho tem uma visão extremamente conservadora, nada mais natural que os arquitetos também a tenham", ressalta.

Marconi Júnior justifica o atual momento como a "arquitetura de carimbo", o que ao seu ver é um fenômeno mercadológi-co nacional, uma construção civil cada vez mais industrial. Nela, o ganho se dá por escala de produção e é perseguido em todos os segmentos de uma obra comercial e residencial.

"Busca-se a repetição de todos os elementos construtivos, porque assim se evita desperdício e se consegue um maior aproveitamento de materiais. Há casos de construtoras que usam o mesmo projeto para dois ou mais empreendimentos, inclusive as mesmas plantas internas", reforça o arquiteto.

Segundo ele, isto acontece porque nunca se construiu tanto como agora e, se antes uma empresa do ramo tinha no máximo duas obras em andamento, hoje muitas delas têm até seis empreendimentos sendo executados simultaneamente.

"A demanda é muito grande, então é preciso repetir, para acertar sempre. Também porque se ganha mais na negociação da compra de materiais. Como todos terão as mesmas esquadrias, pilares pré-fabricados, por exemplo, compra-se em grande quantidade, obtendo mais rentabilidade. É a busca pela otimização. Como acontece em uma indústria, com produção em série", reforça. Marconi Júnior lamenta que dentro deste novo cenário se deixou de lado a ousadia. "O foco é o modelo padronizado para realizar o lucro e partir para outro. Se abre mão da estética diferenciada porque há pressa", frisa.

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