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Não há uma posição oficial do governo federal quanto a mudanças para o investimento Crédito: paulo nunes / cp memória |
São Paulo - O mercado de juros futuros encerrou a semana alimentado por notícias e especulações em torno de possíveis alterações nas regras da poupança. Essa discussão surge toda vez que a Selic cai abaixo de dois dígitos porque a poupança pode se tornar um investimento mais atraente que alguns fundos de investimentos e desequilibrar a indústria de fundos.
Na quarta-feira, o Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual e deixou a porta aberta para mais cortes. A Selic abaixo de 9%, segundo especialistas, pode deixar a poupança, que é isenta de Imposto de Renda, bem mais atrativa. Como o Comitê de Política Monetária (Copom) não deu sinais sobre o fim do afrouxamento, os investidores passaram a acreditar em mais um corte dos juros básicos. Tais apostas, porém, encontram limite no rendimento da poupança.
Há expectativas no mercado de que as regras da aplicação podem ser mudadas para ajudar a Selic a cair ainda mais. Isso é importante porque, com a taxa básica de juros em queda, tirando a atratividade das aplicações em renda fixa, muitos (e grandes) aplicadores podem migrar para a poupança, cuja remuneração é fixada em 0,5% ao mês, mais a variação da Taxa Referencial.
Se esse movimento ocorrer, pode trazer distorções nos mercados, até mesmo para o Tesouro fazer emissões com base na Selic. A preocupação do governo é devida ao fato de os fundos de investimento serem os principais compradores da dívida federal.
O Brasil tem a sexta maior indústria de fundos de investimento do mundo. São R$ 1,6 trilhão aplicados em 2010, e os fundos de renda fixa - que representam praticamente a metade do patrimônio líquido - são atrelados a títulos do governo, essenciais para controlar a dívida interna brasileira. A poupança, por sua vez, tem R$ 420 bilhões investidos. Uma possibilidade de mudança na poupança seria atrelar seu rendimento a um percentual da Selic, de forma a manter os fundos atrativos.
Como a popularidade da presidente Dilma Rousseff está elevada, os agentes de mercado acreditam que ela teria condições de bancar o ônus de mexer nas regras. Mas, nos bastidores, o governo, de fato, não demonstra muita pressa em discutir a questão. Quando o BC afirmou, em documentos divulgados em março, que a taxa básica de juros deveria ficar próxima do piso histórico (8,75%), o Ministério da Fazenda ficou tranquilo.
Para o ministro Guido Mantega, a taxa Selic a 9% ao ano não é um problema para a poupança. Portanto, segundo ele, não há necessidade de mudar as regras. O argumento é o de que, quando a Selic bateu em 8,75%, em 2009, não houve migração intensa de fundos de investimento para a poupança. Por isso, não há desespero na Fazenda em discutir o assunto agora. No Palácio do Planalto, a visão parece ser a mesma.
Para o professor e membro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) José Dutra Vieira Sobrinho, a mudança da remuneração da poupança é benéfica porque abre espaço para mais cortes na Selic. Trata-se, segundo ele, de uma necessidade urgente, mas que pode demorar a acontecer por questões políticas. "A ideia de se alterar a poupança encontraria forte resistência no Congresso", afirma.
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