desinteresse: condôminos têm dificuldade para
escolher síndico Crédito: Pedro Revillion
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"Quando um episódio de mau uso do dinheiro público em
Brasília é noticiado, causa indignação. Mas quando um caso semelhante acontece à
nossa porta, com o nosso dinheiro, a sensação é pior, porque além de termos sido
lesados financeiramente, nos sentimos enganados moralmente por pessoas que
dividem o mesmo edifício com a gente, que sobem no elevador conosco. Cada vez
que o vejo, lembro do quanto fui subestimada", diz a moradora de um pequeno
edifício, de 32 apartamentos, na rua Demétrio Ribeiro, no Centro Histórico de
Porto Alegre.
Ela conta que há mais de três anos os moradores estão
economizando - através de uma chamada extra mensal - para uma grande e
necessária reforma do prédio, de quase 30 anos. Para isso foi aberta uma conta
bancária, em nome do condomínio, onde mensalmente a imobiliária que o
administrava depositava a quantia recolhida. Para surpresa de todos, quando
feitos os orçamentos para a realização da obra, foi constatado que faltava, pelo
menos, um terço do valor total arrecadado na referida poupança. "Retiramos um
extrato bancário da conta e descobrimos que o síndico vinha sacando quantias
consideráveis nos últimos meses. No Natal, retirou cerca de R$ 4 mil. Somente
ele tinha acesso à conta", relata a moradora.
Descobertos os saques
indevidos - o valor daria para comprar um bom carro popular -, para bloquear a
conta o banco exigiu a assinatura da subsíndica. "Para sacar, bastava o cartão
no caixa automático. Nada era exigido pelo banco", observa. "Sabemos que esse
dinheiro não irá retornar tão cedo. Talvez somente via judicial. Ainda não
sabemos que atitude tomar. Teremos que decidir em reunião. A situação é muito
complicada, porque o prédio é pequeno, todos se conhecem. E o pior de tudo:
muitos de nós fazem um mea-culpa, por não termos conferido a conta
periodicamente. Fomos omissos na fiscalização do nosso próprio dinheiro. Imagina
se vamos controlar as verbas públicas", comenta.
Outra questão que a
moradora - a qual não quis se identificar - levanta é em relação ao fato de que
ninguém quer mais ser síndico, mesmo que o escolhido tenha alguns benefícios,
como ficar isento da taxa condominial. "É raro alguém querer assumir essa
função, mesmo remunerado. Então, acabamos colocando pessoas que não são
preparadas para o cargo, não possuem boas referências, mas as aceitamos assim
mesmo porque não há outro morador que queira. E no fim, todos somos
prejudicados. Tenho certeza que isso não acontece só no meu prédio, mas em
outros. Conheço casos semelhantes por aí", desabafa.
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