sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Zona Sul à venda

       O bairro Tristeza já não é mais o mesmo. Onde antes existiam antigas e amplas casas, em terrenos arborizados e extensos, hoje se vê pequenos sobrados modernos e compactos em condomínios horizontais. O bairro tem centenas de imóveis à venda, principalmente na avenida Wenceslau Escobar para trás, ou seja, em direção contrária ao Guaíba. Entre as ruas Landell de Moura, Mário Totta, Padre João Batista Réus, Dr. Pereira Neto e Liberal em algumas das transversais, como Professor Joaquim Louzada, Victor Silva, Álvaro Guterres, Santa Vitória e Dona Pulina, o que mais se nota são placas "Vende".

       E essa mudança de perfil está acontecendo aceleradamente nos últimos três anos, quando foi permitida pela Prefeitura Municipal a construção de prédios com até oito andares, o que antes era proibido pela legislação, e também com o surgimento de Shoppings. Os terrenos estão com preços nas alturas, mas, como salienta Diego Godoy, da Guarida Imóveis, "tudo ali se vende". A demanda por imóveis no coração da zona sul é enorme". O "coração", que fica entre os bairros Camaquã, Assunção e Cristal, pode estar batendo difewrente, mas algo continua igual: quem mora na zona Sul, não quer sair de lá.

       Entre as imobiliárias que agenciam os imóveis da Tristeza está a Canadense, com 200 imóveis à venda na região. Segundo o gerente da filial da Otto Niemeyer, Fabiano Kneipp, é visível a mudança que o bairro vem sofrendo no últimos três anos, quando o Plano Diretor de Porto Alegre permitiu erguer ali prédios com mais de três andares. "Os antigos moradores aproveitam a valorização dos terrenos e os vendem para construtoras, geralmente pequenas, formadas por pessoas que residem no bairro mesmo, para que construam pequenos edifícios ou condomínios horizontais, uma tendência na zona sul", explica o corretor. Conforme ele, os casos mais comuns são de famílias que vivem ali há muitos anos, algumas há mais de 50 anos, e querem agora vender o terreno e ir morar em apartamentos ou em casas menores, com mais segurança e menos trabalho, pois geralmente essas exigem muita manutenção. "Na verdade está à venda o terreno, e a casa vem junto", relata.

       De acordo com Kneipp, há casas novas e antigas sendo comercializadas, por isso a conclusão que tira é de que os proprietários desejam mesmo é morar em outro lugar, onde há mais infraestrutura de lazer e despezas gerais divididas entre muitos condôminos. "Os serviços estão caros, como jardineiros e zelador. Então muitos desses moradores, que vivem de aposentadoria, preferem ir viver em lugares onde não exijam essas manutenções e, principalmente, que ofereçam mais segurança", cita.

       Há casos, conta Kneipp, de famílias que estão migrando para outros bairros para terem uma renda extra. "Vendem suas casas por um preço alto e compram uma mais barata, geralmente menor, ou um apartamento, em bairros menos valorizados e, com o dinheiro que sobra, complementam a renda", observa. Ele aponta também que existem pessoas que vendem e compram apartamentos novos no mesmo bairro, já que há vários empreendimentos gigantescos na região. "Resumindo, eles vendem os terrenos, que estão valendo muito. Não interessa idade e condições do imóvel. Eles estão aproveitando a supervalorização da região", conclui o agenciador.

       Segundo Kneipp, um terreno de 396 metros quadrados, na Otto Niemeyer, com uma residência antiga e um galpão, está sendo vendida a R$900 mil. Ele conta uma curiosidade: quem mora na zona Sul, geralmente se muda para outro bairro da mesma região, onde as construtoras menores também têm sua base. Há casos também de profissionais liberais que compram esses terrenos e constroem no local três ou quatro casas triplex e as revendem com muito lucro. Uma casa nova de três dormitórios está sendo vendida, em média, no bairro por R$ 360 mil. "Na Hípica, por exemplo, que fica 6 km de distância, é possível comprar por R$ 150 mil", exemplifica o gerente da Canadense.


Fonte:  habitação & mercado - Ano 2 / Nº 88 - Correio do Povo - 05/08/2011

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