terça-feira, 20 de março de 2012

Máquinas estão prontas para as obras no Beira-Rio

Patrícia Comunello
JOÃO MATTOS/JC
Assinado o contrato com a Andrade Gutierrez começou a movimentação ao lado do estádio do Inter
Assinado o contrato com a Andrade Gutierrez começou a movimentação ao lado do estádio do Inter
A reforma do estádio Beira-Rio para atender a exigências da Copa do Mundo de 2014 e assegurar a vaga porto-alegrense no maior evento do planeta renasce amanhã após uma gestação de nove meses. Este foi o prazo que a direção do clube e a construtora mineira Andrade Gutierrez (AG) levaram até parir o contrato assinado ontem, em ambiente que combinou emoção, juras de execução em alta qualidade e farpas moderadas. A cerimônia, que ocupou a sala do Conselho Deliberativo, também teve choro, vídeo sobre as conquistas coloradas, craques de títulos do passado e dos mais recentes e foguetes (do lado de fora). A AG anunciou o banco BTG Pactual, um dos maiores na área de investimentos do mercado brasileiro, como um dos sócios para um projeto orçado em R$ 330 milhões.

Parte do custo, R$ 205 milhões, já está sendo tratado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). Os representantes da empreiteira informaram que o pedido de enquadramento no programa Pró-Copa (destinado aos estádios) já está tramitando no banco. Máquinas já estavam ontem de plantão, ao lado do estádio, numa espécie de canteiro de preparação das obras. A meta é aprontar o local até dezembro de 2013. O estádio ficará fechado nos meses entre dezembro e fevereiro - entre 2012 e 2013. Não foi divulgada a previsão do número de trabalhadores. O clube já locou centros de treinamento (Alvorada) e prepara campos próximos ao Gigante da Beira-Rio para uso de categorias de base e principal. A intenção é deixar a área livre para as obras, com exceção de dias de jogos. A reforma está parada desde junho de 2011.

Para o Inter, o maior trunfo foi ter cravado a pessoa jurídica da AG no documento. “O contrato foi assinado com a Andrade Gutierrez. Batemos o pé nisso. O Inter tem respaldo de uma das maiores construtoras do País”, vangloriou-se o presidente colorado, Giovanni Luigi. A negociação compromete ainda mais a empresa caso haja algum problema para saldar o compromisso. Segundo o presidente-executivo da AG, Otávio Azevedo, que abusou em seu discurso da relação entre torcedores e seu clube, o BTG terá ao lado da empresa a maior participação na operação. Azevedo não quis informar a cota de cada um e avisou que o grupo busca mais investidores.

“Está concluído e a festa está na rua. As participações estão sendo definidas. A do BTG é expressiva, fechamos na semana passada, e há outros investidores que estamos finalizando”, projetou o executivo. A informação de que as obras começam amanhã foi dada no evento. Segundo Azevedo, a data foi repassada na hora pelos engenheiros. A empresa e o Inter enviarão nos próximos dias o contrato e o cronograma ao Comitê Organizador Local (COL), antecipou o diretor-executivo do comitê, Ricardo Trade, que chegou, no começo da manhã de ontem especialmente para o evento.   

As autoridades e dirigentes narraram a trajetória até a assinatura. O projeto, que dotará o estádio de cobertura, nova garagem, área de minisshopping e novo gramado (além e cadeiras e suítes), chegou a ficar ameaçado, admitiu Luigi. Desde o começo de janeiro, após a aprovação em dezembro da minuta do contrato pelo Conselho Deliberativo, a negociação virou um pesadelo. Somente na sexta-feira passada a palavra final foi pronunciada. Pela modelagem, o Banrisul, que sofreu desgaste com notas públicas em que a AG chegou a culpar a instituição pela demora, ficou fora. “Temos o Banrisul no maior conceito. Não houve nenhum problema”, limitou-se Azevedo. Tarso Genro, que havia elevado a pressão na semana passada ante novo prenúncio de adiamento da assinatura, afirmou que a “tensão ajudou a aperfeiçoar as relações da empresa com o clube”.

Giovanni Luigi foi o principal alvo dos discursos - do prefeito da Capital, José Fortunati, do governador Tarso Genro (que chegou somente depois do ato de assinatura) e de Azevedo. Tanto que o presidente do clube foi o mais aplaudido, e o único com direito à plateia em pé, no palco armado no clube. “Ele teve postura sábia”, traduziu Fortunati, que considerou a assinatura como a largada para o Mundial. “A Copa começou”, avisou. 

Comitê organizador quer enxergar as máquinas trabalhando, avisa o diretor-executivo



Mais que os colorados e gaúchos, os engenheiros e arquitetos do Comitê Local Organizador (COL), no Rio de Janeiro, estão ansiosos para enxergar as obras na Capital. O diretor-executivo do COL, representante oficial da Fifa, Ricardo Trade, veio especialmente para a solenidade. “Estamos muito contentes porque na nossa sala de monitoramento das obras não havia nada daqui. A partir de agora teremos mais uma sendo enxergada pelos nossos arquitetos”, comemorou.

O dirigente se referiu às câmeras de vídeo posicionadas nas arenas das 12 subsedes. Para os espectadores do COL, a imagem era a mesma há nove meses. “A gente estava apoiando todas as negociações e monitorando”, garantiu Trade. As conversas eram diárias e impregnadas de tensão na semana passada. “Nada mais justo que estar aqui. Fomos convidados e viemos para prestigiar.” Trade disse que não sabia que a intenção era retomar a reforma amanhã e reforçou que o prazo final é dezembro de 2013. O comitê espera para os próximos dias o cronograma e contrato. Há duas semanas uma comitiva de técnicos do COL e da Fifa esteve em Porto Alegre e ouviram de Giovanni Luigi a promessa de assinar contrato até terça-feira passada, o que acabou não se confirmando.   

O diretor de marketing do Inter, Jorge Avancini, já começa a refazer planos de aumento do faturamento após o fim da novela da negociação. A meta atual é alcançar, em 2019, receita total de R$ 400 milhões ao ano, dobrando a receita atual de R$ 200 milhões (2011). O Inter consolidaria a liderança entre os clubes brasileiros e se consagraria entre os maiores do globo. Somente com verbas de marketing, a cifra seria de R$ 100 milhões, em vez dos R$ 32 milhões atuais. “Mas parte vai para a AG. Vamos rever planos”, adianta Avancini. Com 106 mil sócios, que geram R$ 40 milhões por ano, o clube projeta dobrar a fonte. “O estádio só gera renda 200 dias ao ano. Queremos usar 250 dias.”

Na reforma, Inter dará como contrapartida R$ 26 milhões, dinheiro da venda do Estádio dos Eucaliptos, e reembolsará a Andrade Gutierrez em R$ 8 milhões, relativos a camarotes e suítes já comercializados, que passam à construtora. Na contrapartida do Inter estão os R$ 14 milhões já investidos nas fundações da cobertura, instaladas quando o clube ainda tocava as obras com recursos próprios.


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