segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Brasil age para irrigar o crédito

Risco de reedição do cenário catastrófico de 2008 fez o país adotar medidas preventivas para estimular os financiamentos

 Especialistas dizem que o impacto negativo no crédito global pode ser maior até mesmo que o apurado em 2008<br /><b>Crédito: </b>  SPENCER PLATT / afp / cp
Especialistas dizem que o impacto negativo no crédito global pode ser maior até mesmo que o apurado em 2008
Crédito: SPENCER PLATT / afp / cp

São Paulo - A crise europeia financeira deixou o crédito mais escasso no mundo. Por enquanto, ninguém consegue observar uma reedição do cenário catastrófico de 2008, quando os empréstimos secaram imediatamente depois da quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos. Mas a situação já preocupa e, segundo especialistas, pode piorar. Esse risco levou o governo brasileiro a adotar medidas preventivas para estimular os financiamentos na economia, como a nova redução da taxa básica de juros (Selic) que, na semana passada, caiu de 11,5% para 11% ao ano.

O economista-chefe do banco Santander no Brasil, Maurício Molan, lembra que, de agosto para cá, o custo médio de linhas internacionais de crédito triplicou. Financiamento mais raro lá fora faz com que empresas brasileiras que costumavam tomar dinheiro emprestado em outras praças se voltem para o mercado brasileiro. Com mais demanda, o custo tende a subir.

O diretor corporativo de Controladoria do Itaú, Rogério Calderon, acredita que, "por enquanto", não se verificam efeitos aqui dentro. Isso não significa que a batalha esteja vencida. Longe disso, afirma. "Diria que a crise atual é até pior que a crise de 2008", destaca o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC, uma entidade que reúne as instituições de pequeno e médio porte), Renato Oliva.

Por isso, o presidente da ABBC argumenta que, potencialmente, o impacto negativo no crédito global pode ser maior até mesmo que o de 2008. "Em 2008, faltava liquidez. Agora, pode faltar crédito", explica. Por causa desse risco descrito por Oliva, o governo brasileiro decidiu agir preventivamente nas últimas semanas para irrigar o mercado de crédito. Afrouxou, por exemplo, algumas das medidas conhecidas como macroprudenciais, adotadas no fim do ano passado. Naquele momento, as medidas do governo tinham como objetivo esfriar a concessão de financiamentos em vários setores da economia, como o automobilístico. Além disso, o Banco Central deu prosseguimento ao processo de queda da taxa Selic.

Ao abrir o caminho para o barateamento e a ampliação de prazos para os empréstimos, o governo espera estimular a demanda e, por tabela, o crescimento econômico. Ainda assim, há dúvidas sobre a eficácia das medidas adotadas, uma vez que o grau de endividamento dos brasileiros já começa a preocupar alguns especialistas. Por esse raciocínio, indaga-se se as pessoas teriam disposição e condições de pegar ainda mais dinheiro emprestado.

Molan, do banco Santander, argumenta que o grau de endividamento no país (dado pela divisão do tamanho da dívida sobre a renda total) é baixo para os padrões internacionais: 41,8%.

Em compensação, lembra que o comprometimento da renda com dívidas (ou seja, gastos com juros e principal) é alto: 22%. "Mas, como tendência, verificamos uma queda no ano passado e, recentemente, uma estabilização. Por isso, ainda acreditamos que há espaço para um endividamento adicional de forma saudável", pondera Molan.

Oliva, da ABBC, concorda. "As medidas do governo vão contribuir para a redução dos juros cobrados do consumidor e para a extensão do prazo de parcelamento", acredita. "Por isso, terão efeito positivo."


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.