domingo, 6 de maio de 2012

Ex-sem-teto buscam dignidade

Sobreviver precisando pagar contas e manter um lar são as principais dificuldades de quem deixou a rua


Maioria dos que moram em praças é homem e não tem estudo
Crédito: PEDRO REVILLION


Na contramão da pesquisa que revela o crescimento no número de moradores de rua em Porto Alegre, algumas pessoas que viveram embaixo de viadutos, nas calçadas, sob marquises e em praças encontram oportunidade de recomeçar. Ao superar dificuldades constantes, eles recuperam a dignidade.

Dos últimos 11 anos que viveu na praça Garibaldi, no bairro Cidade Baixa, a doméstica Karina Lopes Simão Gomes, 25 anos, só tem uma certeza: "A rua não é lugar para ninguém". Desde novembro, com outras 300 famílias, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, Karina reside no condomínio Repouso do Guerreiro, no bairro Restinga.

Ainda que tenha saído das ruas, a rua não saiu da vida dela. "Às vezes tenho uns surtos e volto para a praça Garibaldi. Lá também é meu lugar. É bom ter um espaço só meu, mas é difícil manter uma casa e pagar as contas. Antes eu não tinha nada, agora a luta é manter tudo isso", explica, ao dizer que muita gente que está na rua deseja sair da situação, mas não quer trabalhar.

Aos 13 anos, Karina deixou o convívio com os pais e saiu de casa. Nesse período, teve dois filhos, que são criados pela mãe. Enfrentou, segundo ela, inúmeras privações, mas, com auxílio da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), conseguiu abandonar a vida ao relento, conquistou emprego como doméstica e agora participa de movimentos em prol dos moradores de rua. A próxima meta é voltar a estudar e concluir o ensino fundamental. "Só quem precisou viver sem teto sabe o valor de um lar. No entanto, a maioria ainda vai demorar para ter esse sentimento. Por isso, não abro mão de ir nas praças e ajudar quem precisa. Ainda que eu mesma necessite de ajuda para me sustentar, além do Bolsa-Família que já recebo", diz Karina, que, recentemente, perdeu o emprego e agora distribui currículo em busca de uma nova oportunidade profissional.

Enquanto fuma, vício que adquiriu nas ruas, ao lado da cadela Mel, com quem passa a maior parte do tempo, Karina conta que no condomínio, destinado a pessoas com renda até três salários mínimos, também vivem outros ex-moradores de rua, mas a grande dificuldade deles é se manter. Para ela, é preciso pensar em formas de auxílio constante para quem vive em situação de rua. Acredita que o número de pessoas deve ser ainda mais gritante do que a pesquisa da Fasc mostrou. "Essa quantidade não é maior que a vontade que muitos têm de virar essa página, não passar mais frio, precisar mendigar ou ser invisível."

Situação na Capital

- 1.347 em situação de rua

- 81,7% homens

- 17,1% mulheres

- Faixa etária: de 25 e 59 anos

- Centro Histórico (27,3%), Floresta (10%) e Menino Deus (7,7%)

- 60% não completaram o ensino fundamental

- 60% desempenham atividade reconhecida, como catar material reciclável

- 48,9% convivem com outros adultos em situação de rua durante a entrevista

- 49,6% têm dependência química-álcool e doença

- 12,8% usam crack diariamente

- 49,95% nasceram na Capital

- 32,5% vieram do Interior


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